domingo, 27 de setembro de 2020

A M O R F O B I A

 



EU PRECISO QUE EXISTA VOCE

POSSO ATÉ VIVER SÓ,

MAS:

COMO RESPIRAR?



j.Torquato

EU QUE MORDI A POEIRA

 

EU QUE MORDI A POEIRA

EU MORDI O LÁBIO INFERIOR
OUVI UMA GARGALHADA...
ERA DO MEU ESPELHO E ME DISSE: MORDEU COM O QUÊ?
SÓ SEI QUE MORDI, MAS ME ENGANEI, ERA UM TRAVESSEIRO.
CURVEI-ME PARA TRÁS, PARA EQUILIBRAR OS ÂNGULOS. .
SENTI INVEJA DE INANA ELA FAZ 1 ANO EM 3.600 ANOS.
TUDO A MINHA VOLTA É POEIRA DO QUE FOI
MOVEIS INCLINADOS, VIDAS QUEBRADAS, TRINCADAS, TRUNCADAS.
SOMBRAS DE PEDAÇOS, POEIRA EM TEMPESTADE PELO SOLO DE MEU CHÃO.
NEM RAIO DE SOL ATRAVESSA A TEMPESTADE, NEM DO CHÃO NEM DE MIM.
SE AINDA VEJO IMAGENS BORRADAS,
QUE SEJA UMA TEMPESTADE DE POEIRA EM MINHA ÍRIS.
O QUE EU VEJO, SÓ COM A ÍRIS DA MINHA ALMA,  ENXERGO.
CÁ TEM SONS E IMAGENS, EM UM VÍDEO DE CONSTANTES ATUALIZAÇÕES,
E NA MINHA ALMA A PASSAR TODOS OS MOMENTOS,
TODOS MEUS MOMENTOS QUE PASSARAM.
ME QUEDO A ASSISTIR EM GRANDE TELA DE 360 GRAUS, EU EM MIM DE CABELOS LONGOS, BOTAS SALTO ALTO, CALÇAS BOCA DE SINO, CAMISAS QUADRICULADAS, GOLA LEVANTADA.
VEJO O VIOLÃO, A CANÇÃO, O MICROFONE, A LUA, E O SERTÃO.
VEJO DENTES A CAIR NA SACRISTIA DE MEU BATISMO DE IDOSO.
E VEJO A EXTREMA UNÇÃO DE UM CADÁVER VIVO
VIVENDO SEM APRENDER MAIS, SEM VIAJAR MAIS, SEM PASSEAR MAIS.
NADANDO SEM ÁGUA, CAVALGANDO SEM CAVALO, DIRIGINDO SEM AUTO.
ARTICULANDO EM CÂMARA LENTA PARA O EXTERIOR,
 O QUE A MENTE DITA VELOZMENTE, DA CABEÇA O INTERIOR.
AMANDO EXTERIORMENTE,
O QUE O CORAÇÃO TRADUZ DA SAUDADE E DOS AMORES.
SEM PODER EXPRIMIR,
SEM PODER ESCREVER,
SEM PODER GRAVAR.
SÓ UMA CARCAÇA JÁ ESTRAGADA,
SEM MAIS UTILIDADE,
AINDA SENDO USADA
PARA VIVER.
EU,
J.Torquato
.

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

SEM LUZ

 


SEM LUZ

J.tORQUATO

 

PERDI MEU FONE DE OUVIDO,

DANEI-ME MAIS PELO SENTIMENTO DE PERDA,

PROCUREI POR TODOS OS CANTOS SEM ÓCULOS

CADÊ MEUS ÓCULOS?

DEPOIS DE UM TEMPO DESCOBRI-O NA MINHA TESTA

MAS E MEU FONE? DOIS DIAS PROCURANDO.

ESTAVA EM CIMA DE MEU PC, À MINHA VISTA.

QUEDEI-ME A PENSAR... TRANSPOSIÇÃO QUÂNTICA DA MATÉRIA?

AÍ ME DEI CONTA QUE EU TAMBEM ESTAVA À VISTA,

QUE QUASE TODOS NÃO ME VIAM, MAS ME OLHAVAM SEMPRE.

EU NÃO, NUNCA, FUI TELETRANSPORTADO,

NÃO ERA BRINQUEDO DE ESPÍRITOS BRINCALHÕES.

EU ESTAVA LÁ, CÁ, AQUI. TODOS PASSAVAM E...

NÃO ME VIAM.

TEMPOS OUTROS, VIRAVAM A CABEÇA PARA ME RE OLHAR AO PASSAR,

AGORA ME OLHAM E NÃO ME VÊEM, VIREI FONE DE OUVIDO.

SOU UMA PESSOA COM A IDADE DE UM FONE DE OUVIDO,

SOU A ÁGUA ABUNDANTE DISTANTE DO DESERTO DA JUVENTUDE,

SEM SABOR, SEM VALOR, SEM MATÉRIA, SEM LUZ.

SOU IDOSO.

J.Torquato