O FIM DO TUDO
O FIM DO TUDO.
J.Torquato
PELA LADEIRA DAS PEDRAS
LÁ PERTO DOS FARÓIS
VEJO TELHADOS DA VELHA MACEIÓ
OS CAMINHOS ESTREITOS E ENTRELAÇADOS DA VELHA CIDADE.
A MINHA DIREITA UMA VELHA ÁRVORE ME FALA
ESTÁ ENFRAQUECIDA PELA POLUIÇÃO
NÃO DAS DÉCADAS DA JOVEM GUARDA, NÃO.
MAS DA EXPLOSIVA DÉCADA DE AGORA
ELA ME DIZ QUE SE FOSSE HUMANA, ESTARIA INTERNADA NA UTI
E ESTAVAM DIAGNOSTICANDO CORONA VÍRUS PARA ELA.
SÃO ESTES OS TAMPOS DE AGORA
E EU VOLTO PARA MIM, O MEU OLHAR
E O QUE EU VEJO ME ESPANTA
ESTOU VELHO POR FORA, RUGAS RIEM DE MIM.
MAS, ESTOU AINDA MAIS VELHO POR DENTRO.
A VONTADE DESERTOU, A FORÇA ZOMBA, SOBRA SÓ A TEIMOSIA.
E NESTE TEMPO TODO, NÃO FORAM EMBORA SÓ OS MÚSCULOS.
FORAM OS AMIGOS, AS MÚSICAS, AS CORES DOUTRORA.
FORAM AS NOITADAS E OS CARANGUEJOS COM CACHAÇA.
O VIOLÃO DE LUCIANO, O CARLITO DE CARLINHOS.
A MÃO MACIA E TERNA DA MINHA MÃE, A TESTA PROVANDO A FEBRE.
O VICK VAPORUB, O LENÇOL COM MEU NOME, O TAMANCO DE MADEIRA.
QUÃO DISTANTE ESTÁ O TAMANCO DA MINHA RIDER.
O BRANCO DA COMUNHÃO DO NEGRO DOS DIAS DE PANDEMIA
O SORRISO DA SIGNAL COM LISTRAS VERMELHAS,
DO CHORO DO CIDADÃO APANHANDO DA POLÍCIA
POR ESTAR... TRABALHANDO.
AH MINHA ÁRVORE SEM FRUTOS,
NÃO É SÓ A SAUDADE QUE ME DÓI.
É A IMPOTÊNCIA JUVENIL DE RESOLVER TUDO ISSO NA PORRADA.
É A DESCOBERTA QUE MEU PAIS E NOSSAS FAMÍLIAS NÃO TEM FUTURO.
QUE A PROFESSORA ESTAVA ERRADA.
E MESMO O GIGANTE ADORMECIDO ACORDANDO,
RUGE ACORDADO, NUM PESADELO MAIOR QUE OS SONHOS.
E MIRAMOS NOSSAS CRIANÇAS SORRIDENTES E INOCENTES
SEM SABER QUE A ÁRVORE CHORA SEU FUTURO.
E EU, NO MEU NIVER, SEM COMEMORAR,
O FIM DO TUDO.